Dando continuidade aos artigos sobre a saúde dos pets, hoje vamos abordar o tema digestão. A partir da leitura desse texto você vai entender melhor como funciona o sistema digestório de cães e gatos e vai saber como manter seu pet sempre saudável nesse quesito.
As particularidades digestivas dos cães e gatos
A anatomia e a fisiologia do sistema digestório de cães e gatos é diferente dos seres-humanos. Primeiramente, esses animais estão classificados na ordem Carnívora, já que descendem diretamente de animais selvagens e possuem características em comum:
estômago com pH bem ácido, o que ajuda a “quebrar” as proteínas ingeridas para serem aproveitadas pelo organismo;
dentes longos e afiados, utilizados para rasgar e separar a carne em pedaços, extremamente úteis para prender e dilacerar suas presas, e têm por instinto o comportamento de caçador;
O intestino é mais curto que os dos onívoros, e muito mais curto que de herbívoros, já que os alimentos vegetais demandam uma digestão mais lenta para correta absorção de nutrientes;
Uma outra característica importante é que não possuem uma enzima salivar que ajuda a digerir o carboidrato, a amilase;
Animais carnívoros são capazes de regular sua glicemia (quantidade de açúcar disponível no sangue) sem a presença de carboidratos na dieta, algo que onívoros (como nós) não podem fazer.
Os gatos têm essas características ainda mais pronunciadas, e são considerados carnívoros obrigatórios. Eles dependem de maiores quantidades de proteínas na dieta, têm suas preferências alimentares muito restritas, e em raras situações se alimentam de algo que não seja de origem animal. Os animais carnívoros apresentam altos índices de digestibilidade de alimentos desse tipo, como carnes, vísceras e produtos derivados. Já em alimentos de origem vegetal, como folhas, grãos, legumes e frutas, a digestibilidade é mais baixa, necessitando muitas vezes de processos industriais para torna-los digeríveis para esses animais.
O que é digestibilidade
Digestibilidade significa o quanto determinado alimento pode ser aproveitado, ou seja, absorvido pelo sistema digestório. Na nutrição, é utilizado o termo ‘coeficiente de digestibilidade’, que indica a proporção de alimento ingerido que é realmente digerido e absorvido. Os nutrientes que não são absorvidos serão eliminados nas fezes.
Cada alimento tem um coeficiente de digestibilidade diferente. Processos físicos como o trituramento e o cozimento, e processos industriais como a extrusão são capazes de aumentar significativamente a digestibilidade de vários alimentos e são utilizados pelas empresas de nutrição animal para melhorar a qualidade do alimento.
Já o desequilíbrio dos nutrientes e alimentos da dieta pode reduzir a digestibilidade. O aumento da ingestão de fibras (presente em grandes quantidades nos vegetais) e de minerais como o cálcio (ossos, leite, entre outros), por exemplo, dificultam a digestão e a absorção de outros nutrientes, principalmente vitaminas e minerais. Por isso é tão importante seguir rigorosamente a recomendação do médico veterinário, e utilizar sempre produtos desenvolvidos por empresas de nutrição animal que garantam o correto balanceamento de nutrientes de uma refeição.
Dietas com menor digestibilidade acabam causando um maior volume de fezes, já que uma maior parte do alimento acabou passando pelo trato digestório sem ser digerida. Dietas com alta digestibilidade favorecem a formação de fezes mais secas e em menor volume. Além disso, pelo menor aproveitamento da refeição, será necessário que o animal ingira uma maior quantidade de alimento para suprir suas necessidades.
Intestino saudável - o papel desse órgão na imunidade
O intestino é um órgão com funções digestivas e absortivas ao mesmo tempo. Ou seja, ele quebra os componentes dos alimentos em moléculas menores passíveis de serem absorvidas pela sua mucosa. O intestino é o único órgão capaz de absorver os nutrientes da dieta e, por essa característica, é a principal via de acesso dos microrganismos patogênicos (maléficos) e das toxinas.
Em todos os animais e no homem, existe uma enorme colônia de bactérias que reside dentro do intestino. Atualmente sabe-se que a composição dessa colônia é fundamental para a manutenção da saúde, principalmente no que tange à imunidade. Conforme citado acima, o intestino tem grande capacidade absortiva, dada a sua função. A presença da flora bacteriana tem como principal função proteger que bactérias patogênicas possam adentrar à corrente sanguínea do animal. As bactérias intestinais são imunomoduladoras: elas auxiliam o sistema de defesa natural do organismo a identificar e a atacar (ou não) determinado agente. Um desequilíbrio nessa flora pode tanto exacerbar a resposta imune, gerando alergias e inflamações, quanto diminuir, intensificando as chances de infecções. Estudos realizados em seres humanos relacionam doenças como obesidade, diabetes, alergias e doenças autoimunes com o desequilíbrio da flora bacteriana.
Prebióticos e sua importância
Com o exposto acima, podemos imaginar o quanto é importante manter o equilíbrio da microbiota intestinal. A utilização de alimentos com alta digestibilidade - e consequentemente, aproveitamento, é o primeiro passo. Muitos alimentos que parecem naturais e saudáveis podem atrapalhar e muito a digestão, gerando um desequilíbrio em todo o sistema digestório, afetando inclusive o equilíbrio da flora bacteriana.
Existem determinados alimentos que auxiliam a saúde da microbiota intestinal, conhecidos como prebióticos: ingredientes não digeríveis (ou seja, que não serão absorvidos pelo organismo) que afetam positivamente a saúde do indivíduo estimulando seletivamente o crescimento de bactérias benéficas e reduzindo a multiplicação de bactérias patogênicas.
Entre os prebióticos mais utilizados estão os fruto-oligossacarídeos (FOS) e mananoligossacarídeos (MOS).
FOS: são açucares de ocorrência natural em alguns vegetais. Apesar disso, não são absorvidos, chegando intactos ao intestino grosso onde desempenharão suas funções. Esse açúcar será fermentado justamente pelas bactérias benéficas, servindo de alimento para elas.
MOS: possuem capacidade de modular o sistema imunológico, ligando-se a uma variedade de toxinas e preservando a integridade da superfície de absorção intestinal. A principal fonte é a parede celular de leveduras.
Por fim, para manter o sistema digestório do seu cão ou gato sempre saudável, é necessário utilizar apenas alimentos seguros, certificados e recomendados pelo médico veterinário de confiança. A utilização de ingredientes nobres, de alta digestibilidade e aproveitamento, associados a um correto equilíbrio dos nutrientes e a presença de prebióticos favorecem a saúde do animal de estimação. Portanto, procure por alimentos com essas características. Caso tenha dúvidas a respeito, não hesite em nos contatar através das nossas redes sociais, ou deixando um comentário abaixo.
Referências
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